quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Ainda usa(ría)mos o tronco.



Hoje, enquanto olhava postagens no facebook, minha filha viu a foto de uma mãe negra com seu bebê no colo. ‘Que lindo papai!’, disse ela. ‘É uma representação de Jesus com Maria, filha.’ ‘Não, papai. Jesus é branco!’. E lá fui eu tentar explicar essa impossibilidade histórica tomada como verdade na Igreja, mesmo que banhada de racismo. Foi lá, na Igreja, que minha filha de 8 anos aprendeu que ‘Jesus tem olho azul’. Inclusive na Igreja em que fui pastor. Inclusive durante meu pastorado, por mais progressista que me julgasse.

Domingo passado visitei uma Igreja. Lá, ouvi o pastor dizer algo assim: ‘2015 foi um ano difícil. Crise econômica, recessão, desemprego. Mas nós não tememos nada, pois nosso patrão é Deus. Quem nos guarda é Deus. Quem nos sustenta é Deus’.

Era uma igreja de classe média alta. É bem possível que aquele pastor temesse, ao menos um pouco, se trabalhasse numa igreja de membresia empobrecida.

Há alguns anos, visitei o Acampamento Batista Carioca. É um sítio em Três Rios, no interior do Estado do Rio de Janeiro (https://www.youtube.com/watch?v=LZOWXzIuFpo). É um lugar agradável, com piscinas, campo de futebol, capela, dormitórios, muito verde...

Naquele sítio há algo que nos remete às páginas mais sombrias da História do Brasil. Um tronco utilizado para prender escravos. Possivelmente, houve naquele sítio, em algum momento do passado, negr@s escravizad@s.



Hoje, quando me lembro daquele tronco, me vem à mente a frase escrita nele: ‘Cristo, Verdade que Liberta’. É quando me sinto envergonhado de ter, um dia, olhado para aquilo como algo que se devesse valorizar.

O autor da inscrição provavelmente não fez por maldade. Eu também, quando valorizei aquilo, não o fiz de caso pensado, anulando um símbolo de morte. O que eu sabia, na ocasião, era que mais temível que a escravidão do corpo é a escravidão do espírito. Mais temível que morrer no tronco, seria morrer sem Cristo e ir para o Inferno.

É a essência do fanatismo religioso evangélico: a visão puritano-pietista de Deus como a única realidade. O único jeito de ver o mundo. A única explicação para tudo. A saída. A resposta. O sustento...

Em nome disso, tomamos como banal, trivial e até poético, anular o peso de dor, crueldade e carnificina, de um tronco usado para prender escrav@s. Onde pessoas sangravam. Agonizavam. Eram selvagemente torturadas. Mortas.

Usar aquele tronco como metáfora religiosa é, para além de alienante, tremendamente desumano.

Na escola, estudamos capítulos monstruosos da História com clareza. Ficamos indignados com a capacidade humana de fazer o mal. Sentimos dor na alma ao nos depararmos com a verdade incontestável de que o Cristianismo foi coautor de diversas empreitadas terríveis.

Mas, ainda assim, aquele tronco permanece lá. É, para mim, um sinal de que continuamos os mesmos.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Como não crer em Deus(?)


Aprendi na minha tenra adolescência a depositar na fé em Deus todos os meus pensamentos, palavras, atos, passos, momentos, decisões e suposições.

Isso significa dizer que a crença – ou o que construí como crença a partir da linguagem comum do grupo e do partilhar de experiências coletivas que vão moldando e resignificando as individuais – passou a ser meu guia. A crença – e todas as respostas que ela me trazia – passou a ser, ao fim e ao cabo, Deus.

Deus respondia detalhes. Onde ir. Quando ir. O texto bíblico que pregar. Com quem (não) namorar.
Depois, decidiu minha carreira – deixei de lado o sonho do magistério para ir ao Seminário e ser pastor.

Deus me impediu de ir para outra Igreja, ao longo dos muitos conflitos que vivenciei na minha comunidade e com meu pastor.

Depois de formado, Deus me fez esperar a saída do pastor da Igreja em que me converti, para assumir o pastorado ali. O problema é que outros 11 candidatos ouviram o mesmo dEle. E uma candidata. ‘Disputei’ com todos eles – e ela – a preferência da congregação.

Fui nomeado pela Igreja como ‘evangelista’ para dirigir cultos e, neles, apresentar os candidatos ao pastorado da Igreja, que estava sem pastor desde dezembro. Tente se esforçar e compreender: eu, um dos candidatos, apresentando outros candidatos e seus atributos. Eu, querendo ser o pastor da Igreja, tendo ouvido Deus dizer que assim seria, apresentando outros que talvez – ou com certeza? – tivessem ouvido o mesmo.

Eu, com 22 anos. Recém formado. Cheio de expectativas.

Ao responder o questionário da Comissão de Sucessão Pastoral, prometi me casar tão logo fosse ordenado. Era um pré-requisito.

Dois candidatos despontaram. Eu e mais um, capitão capelão do Exército.

Chegou o dia da eleição. Fui escolhido pela comunidade. Muitos jovens e adolescentes votaram em mim. Boa parte do coro. A ala mais idosa e outros líderes importantes votaram no capitão. Tive mais votos que os outros candidatos juntos. Era a confirmação de Deus.

Fui ordenado em julho. Casei-me em setembro. Eu mesmo convoquei meu concílio de ordenação. Eu mesmo publiquei no jornal da denominação a tradicional chamada ao concílio. Eu mesmo escolhi o pregador da noite de posse. Deus falava de maneira clara. Mas cada palavra dEle vinha acompanhada de sofrimento e solidão. Eu era o Messias quase-perfeito.

Essa experiência me produziu marcas profundas. Aprendi como Deus age e fala comigo e com a Igreja.

Depois disso, o primeiro elemento mágico que tratei de eliminar da minha vida foi o Diabo. Tarefa difícil. Era muito fácil tê-lo como culpado, tentador, dono dos males, das más intenções e dos inúmeros problemas que enfrentava na minha descoberta como pa(i)stor daquela comunidade.

Mas ele não fazia mais sentido para mim. Admiti, primeiro para mim mesmo e depois nas minhas pregações, que ser livre é escolher um caminho e responsabilizar-se por ele. Essa foi a pior (ou melhor?) confissão que poderia fazer para mim mesmo. Por que, claro, ela tinha consequências imediatas.

Sem a cara, como acho a coroa?

Não achei. Deu no que deu. Eis-me aqui.

A lógica ‘perfeita’ da fé puritano-pietista-evangelical-brasileira é: se funciona, se dá certo, se as pessoas ficam felizes, se o doente se cura, se o doente morre, se o pneu fura: é por que Deus quis ou permitiu. E quando Deus quer até o Diabo vira instrumento dele. Como foi com Jó.

Deus controla tudo. É só confiar nEle. Só esperar. Só agir conforme a direção dEle. Só isso, só aquilo... Só. Deus.

Aí você resolve que vai ocupar esse lugar: vai decidir, vai escolher, vai optar, vai dirigir, vai guiar... Vai assumir tudo. Inclusive as consequências. Sim, por que se Deus te manda para algum lugar, se Ele te diz algo, Ele te garante. Se Ele disse, vai dar certo. Se der errado, é por que você confundiu a voz de Deus com a vontade da sua carne. Ou pior: com a voz do Diabo. Esse pecado é do tipo ‘foda’. Sempre acaba em merda.

Esse texto é fruto de um sentimento que me brotou hoje. Estava com minha filha no ônibus. Ela dormia no meu colo. Ouvi um barulho estranho na rua. Parecia uma confusão. Num piscar de olhos passa pela minha cabeça que pode começar um tiroteio. Já me imagino deitando sobre minha filha para protegê-la. Sim. Sou bem ‘neurótico’. O que melhor, num contexto de caos, do que dizer: ‘Deus, estou em tuas mãos!'?. É muito fácil e bom crer em Deus. Difícil é respirar fundo e pensar no que está acontecendo ao seu redor. Pensar numa saída. Pensar que pode ser apenas um torcedor mais fanático do que eu gritando na rua. Ou um bêbado na zueira. Ou alguém brigando no trânsito...

Quando penso em minha filha e na fragilidade da vida, nas tantas e milhões de coisas que podem sair do controle, no imprevisível, no avião caindo, num relâmpago, numa meningite... É muito difícil não crer em Deus. Mas tem sido a minha escolha. Dolorosa. Geradora de culpa e medo. Escolha que me obriga a conviver com a incerteza, com a fraqueza, com a debilidade, com a minha limitação humana.
Posso mudar de ideia? É claro. Sempre. Ou nunca.

Talvez você diga que julgo ‘Deus’ como inexistente em função das minhas experiências ruins. Das tantas coisas que vi e vivi. Das minhas decepções. Esse texto não quer te convencer de nada. Só quer ser um peito aberto para a minha experiência.

Perguntaram-me se acredito em Deus...

Sou um construtor de altares. Construo meus altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza

ACONTECEU AO final de um debate sobre educação promovido pela Folha. Chegada a hora das perguntas uma senhora me perguntou algo que nada tinha a ver com educação. Perguntou porque lhe doía: "O senhor acredita em Deus?" Houve tempo em que era mais fácil acreditar em Deus. Hoje até o Papa se atrapalha. Na sua visita ao campo de concentração de Treblinka perguntou o que não deveria ter perguntado: "Onde estava Deus quando esse horror aconteceu?"

Heresia porque a pergunta silenciosamente afirma que Deus não estava lá. Se estivesse não teria deixado aquele horror acontecer. Pois Deus não é amor e todo poderoso? Se estava lá e deixou acontecer ou ele não é amor ou não é todo poderoso. Por outro lado, se ele não estava lá ele não é onipresente...

Depois do atentado terrorista ao World Trade Center o "New York Times" publicou um artigo com essa mesma pergunta: Onde estava Deus? Se estava lá, por que deixou acontecer?

Dietrich Bonhoffer, pastor protestante que foi enforcado por haver participado de um frustrado atentado para assassinar Hitler -às vezes não há como fugir: ou matar um único, para que muitos não sejam mortos, ou, para preservar a pureza pessoal, não matar esse único e deixar que milhares sejam mortos; a inocência pode ser mais criminosa que o crime..., lutou com essa pergunta: "Onde está Deus?" Sua resposta foi simples: "Deus está aqui, mas ele é fraco..."

Se Deus existe e é forte, como perdoá-lo por permitir que aconteça o horror de sofrimento que não deveria acontecer? Mas se Deus é fraco ou não existe, então seria possível perdoá-lo e amá-lo. Aí choraríamos e diríamos: "Se Deus existisse e fosse forte isso não aconteceria..." A gente fica, então, com saudade do Deus que não existe. Mas eu não disse nada disso para aquela senhora. Apenas perguntei de volta, pedindo um esclarecimento: "Acreditar em qual Deus? Há tantos... Homens ferozes e vingativos têm um Deus feroz e vingativo que mantém, para sua própria alegria, uma câmara de torturas chamada Inferno para vingar-se dos seus desafetos. Há o Deus jardineiro que criou um Paraíso e mora nas árvores e nas correntes cristalinas. Há o Deus com alma de banqueiro que contabiliza débitos e créditos... Há o Deus da Cecília Meireles que se confunde com o mar... Há o Deus erótico que inspira poemas de amor carnal... Há o Deus que se vende por promessas e faz milagres... E há também o Deus criança de Alberto Caeiro e Mário Quintana. Qual deles?"

Ela ficou em silêncio, meio perdida. Então lhe respondi com os versos do Chico: "Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu".

E perguntei: "Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que chegará amanhã ou a que arruma o quarto para o filho que nunca chegará?".

E acrescentei: "Sou um construtor de altares. Construo meus altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza. Os fogos que acendo sobre eles iluminam o meu rosto e aquecem o meu corpo. Mas o abismo continua escuro e silencioso..."

Aí, provocado pela pergunta daquela mulher desconhecida escrevi um livrinho cujo título é a pergunta que ela me fez: "Perguntaram-me se acredito em Deus". Àquela mulher o meu muito obrigado...

Rubem Alves
Folha de São Paulo, 03 de abril de 2007.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0304200726.htm

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ainda discutindo homossexualidades...


Neste tempo da minha vida, não me imaginava mais discutindo questões relativas à população LGBTT. Para mim, seu direito é inalienável e sua dignidade não pode ser questionada.

No entanto, conversando com um amigo evangélico, percebo que ainda há muito o que ser feito. E, por vezes, acredito que nossa geração é responsável por misturas esquizofrênicas... Ao mesmo tempo em que mergulhamos na ciência e na tecnologia, usamos parâmetros considerados universais e absolutos para julgar algo como ‘o amor’. Loucura, né?

Recebi desse amigo uma pequena lista de perguntas. Não sei se ela é de sua lavra ou de outrem. Já está na minha ‘caixa de entrada’ há 30 dias. Não respondi antes por preguiça mesmo...

Hoje tive um pequeno refresco e me dei ao luxo de gastá-lo tentando responder às perguntas.

Compartilho com você. Se tiver paciência e coragem, leia e opine. Se não, deixe pra lá.


1.                  Desde quando você acredita que o casamento gay é algo para ser celebrado?

Celebro o casamento gay do mesmo modo como celebro as mulheres que conquistaram seus direitos ou os negros que são livres – ainda que ambos permaneçam diariamente lutando para serem respeitados.

Celebrar o casamento gay é entender que o outro, diferente de mim, tem os mesmos direitos que eu. Se prezo pela justiça e pela igualdade, não me resta outro caminho.


A série de perguntas abaixo se referem à Bíblia. Pretendo respondê-las em bloco.


2.                  Quais versículos da Bíblia te levaram a mudar de ideia?
3.                  Como você argumentaria, a partir da Escritura, que a atividade sexual entre duas pessoas do mesmo sexo é uma bênção a ser celebrada?
4.                  Quais versos você usaria para mostrar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo pode representar adequadamente Cristo e a igreja?
5.                   Você acredita que Jesus não teria problemas com comportamento homossexual consensual entre adultos em um relacionamento comprometido?
6.                  Se sim, por que Ele reafirmou a definição de Gênesis de que o casamento é entre um homem e uma mulher?
7.                  Quando Jesus falou contra a porneia, quais pecados você acha que ele estava proibindo?
8.                  Se algum comportamento homossexual é aceitável, como você entende a “mudança” pecaminosa que Paulo destaca em Romanos 1?
9.                  Você acredita que passagens como 1 Coríntios 6.9 e Apocalipse 21.8 ensinam que a imoralidade sexual pode te afastar do céu?
10.              A quais pecados sexuais você pensa que essas passagens se referem?

A primeira noção que precisamos desconstruir é a de que existe um ‘livro’ chamado ‘Bíblia’, como se a ela fosse possível ser determinado um autor ou mesmo um conteúdo. O que conhecemos e chamamos de ‘Bíblia’ é a reunião de 69 livros diversos, para os evangélicos, escrito por autores diversos, em diversas épocas. Esses livros, ao longo do tempo, sofreram diversos tipos de intervenção. Não há sequer um único desses livros com uma linha que seja que se possa chamar de ‘original’. Todos foram copiados, compilados, plasmados, interpolados, revisados e agrupados de maneira tal a corresponder às exigências políticas de um determinado grupo, num determinado período da História.

Isso significa que a ‘Bíblia’ é fruto da experiência humana, marcada por aspectos culturais de cada um dos livros que a compõe e editada ao longo dos anos. Isso para não falar das traduções...

É estranho pensar que eu possa utilizar como imperativo ético um livro como o do Levítico. Ele condena relações sexuais entre um homem e uma mulher menstruada, proíbe comer carne de porco, camarão, usar roupa com dois tipos de tecidos diferentes, manda matar feiticeiras... Ou Deuteronômio, que determina a morte de filhos desobedientes.

A respeito de Jesus, o que pode ser historicamente comprovado é muito pouco. Era um homem da Galileia, analfabeto, monoglota e líder carismático. Seu movimento teve curta duração, mas os ensinos atribuídos a ele se espalharam por uma série de razões diferentes. A partir do que se pode saber de seus discursos, o que é muito pouco, diversas comunidades se organizaram e, à sua moda, moldaram a imagem e o ensino de Jesus. Por isso, temos quatro evangelhos na Bíblia. Eles têm marcas distintas. Além desses, muitos outros foram escritos, mas considerados indignos de fazer parte do ‘canon’ – o conjunto de livros considerados referências da ‘inspiração divina’. Qual critério foi utilizado? Por que quatro e não outros? Quantos dos ‘outros’ estão presentes nos quatro ou nos demais livros do chamado ‘Novo Testamento’?

Duvido muito que Deus tenha ‘descido dos céus’ num determinado momento e indicado aos ‘redatores’ os livros que deveriam fazer parte da ‘Bíblia’. Portanto, acredito no que já disse: todas as escolhas são cultural e historicamente determinadas.

Já Paulo, um importante nome do ‘Novo Testamento’, a quem se atribui popularmente a autoria de treze livros, é outra figura disputada. De sua ‘Carta aos Romanos’ se usa absurdamente o capítulo 1, onde ele consagraria a ira de Deus sobre os ‘homossexuais’. Seria muito trabalhoso discorrer aqui sobre a origem do termo ‘homossexualidade’ e a difícil correlação entre ele e palavras do ‘grego paulino’. É muito mais simples a pergunta: seguimos Paulo no séc. XXI? Mulheres são submissas aos homens? Temos a poligamia aceitável para aqueles que não são líderes na Igreja? A escravidão é algo tolerável?

Não. Não acredito no céu. Desculpa se te magoei. Creio, hoje, – por que amanhã posso pensar diferente – que, como energia que somos, nos transformamos ao morrer. Portanto, não há qualquer razão para eu imaginar que ‘Deus Pai’ estabeleceu uma ‘Lei’ segundo a qual o pecador deve morrer e que, por essa ‘Lei’, ele entregou seu Filho-Jesus para morrer em nosso lugar. Se Ele pôde mudar a Lei para que Jesus pudesse morrer por todos, poderia simplesmente ter nos considerado perdoados, sem que fosse necessário entregar Jesus nas mãos dos carrascos romanos.

11.              Quando você pensa na longa história da igreja e sua reprovação quase universal da atividade homossexual, qual parte da Bíblia você entendeu e Agostinho, Calvino e Lutero não entenderam?

Agostinho vivia numa sociedade machista, patriarcal, assassina e desigual. Ele usou a ‘Bíblia’ para condenar isso? Calvino mandou enforcar, Lutero mandou matar... Pelo visto, eles não entenderam muitas partes da ‘Bíblia’. E entenderam muito bem diversas outras...

A história da Igreja – ou das Igrejas – é marcada por sangue. ‘Em nome de Jesus’ muita gente morreu. E continua morrendo. Eu decidi me livrar desses crimes.

12.              Quais argumentos você usaria para explicar para os cristãos da África, Ásia e América do Sul que o entendimento deles sobre a homossexualidade é biblicamente incorreto e o seu novo entendimento não é condicionado pela cultura?

Qualquer entendimento é condicionado pela cultura. No caso dos ‘cristãos de África, Ásia e América do Sul’, a cultura deles é esmagada constantemente pelo ‘Deus Ocidental Estadunidense’ da ‘Bíblia’.

13.              Você acredita que Hillary Clinton e Barack Obama, entre outros políticos, foram motivados por arrogância e preconceito quando, por quase todas as suas vidas, até pouco tempo atrás, definiram o casamento como o relacionamento pactual entre um homem e uma mulher?

Hillary e Obama, como ‘bons políticos’, querem uma coisa só: votos. Se for preciso dizer que o Sol gira em torno da Terra, dirão.

14.               Você pensa que crianças se sairão melhor com uma mãe e um pai?

Crianças, como nós adultos, precisam de amor e respeito. Isso, às vezes, vêm de pai e mãe. Outras, só de pai, ou só de mãe. Ou de tio, tia, avô, avó, madrinha... Ou de dois pais. Ou de duas mães.

15.              Se não, qual pesquisa você apresentaria para apoiar essa conclusão?

A mesma pesquisa que diz que ‘pai e mãe’ em casa são garantia de sucesso dos filhos.

16.              Se sim, a igreja ou o estado tem algum papel em promover ou privilegiar as condições para que as crianças tenham uma mãe e um pai?

Os deveres do Estado estão definidos na Constituição Brasileira. Os direitos fundamentais dos indivíduos também: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. O Estado não legisla sobre subjetividades... As Igrejas têm liberdade para construir suas doutrinas, desde que não firam esses direitos fundamentais.

17.              O propósito e o fim do casamento apontam para algo maior do que a realização emocional e sexual de um adulto?

Ou ‘um adulto e uma adulta’? Ou dois adultos? Ou duas adultas?

O casamento deve ter o propósito e o fim que o casal quiser determinar. Acredito que não exista receita pronta.  

18.              Como você define casamento?

Pergunta difícil. Hoje, eu definiria como a união de duas pessoas com o desejo de partilhar a vida e o amor.

19.              Você acredita que parentes próximos deveriam poder se casar?

O que são parentes próximos? Estamos falando dos valores da cultura ocidental? Não vejo como irmãos que cresceram juntos possam sentir mútua atração sexual. No entanto, se sentirem, quem sou eu para julgar a dignidade dessa relação?

20.              O casamento deveria ser limitado a apenas duas pessoas?

Em termos civis e legais, acredito que sim. Mas isso pode mudar, de acordo com a necessidade e as práticas culturais.

21.              Com base em quê, se há alguma, você impediria adultos em consentimento, com qualquer grau de parentesco ou em qualquer número, de se casarem?

Não posso impedir alguém de exercitar sua liberdade, quando ela não fere meus direitos fundamentais.

22.              Deveria haver um requisito mínimo de idade para se obter uma licença de casamento?

Do ponto de vista legal, a maioridade. Hoje, 18 anos.

23.             Igualdade implica que qualquer um que deseje se casar possa ter qualquer tipo de relacionamento definido como casamento?
24.              Se não, por que não?

Igualdade significa poder conceituar o que é casamento. Esse conceito mudou ao longo da história e é diferente em outros lugares do mundo. Portanto, culturalmente determinado. Hoje, no Brasil, avançamos no sentido de abranger como casamento as relações homoafetivas monogâmicas.

25.              Irmãos e irmãs em Cristo que discordam da prática homossexual deveriam poder exercitar suas crenças religiosas sem medo ou punição, retribuição ou coerção?

Desde que o façam em privado, sem estimular o ódio ou restringir direitos fundamentais da população.

26.              Você vai defender seu amigo cristão quando seu empregos, seu crédito, sua reputação e sua liberdade forem ameaçados por conta dessa questão?

Isso é algo tão distante e fantasioso que nem preciso me dar ao trabalho de responder. Agora, é preciso defender quem, como homossexual, tem seu emprego, crédito, reputação, liberdade e até vida ameaçados por sua orientação sexual.

27.              Você vai se posicionar contra o bullying e a opressão de todos os tipos, quer seja contra gays e lésbicas ou contra evangélicos e católicos?

É preciso ser terminantemente contrário a qualquer iniciativa que coloque em risco os direitos fundamentais. Bem diferente, por exemplo, de quando bruxas e outros eram mandados para a fogueira pelos ‘cristãos’.

28.              Como a igreja evangélica tem falhado frequentemente em levar a sério os divórcios não bíblicos e outros pecados, quais passos você vai tomar para se certificar que os casamentos gays sejam saudáveis e de acordo com os princípios da Escritura?

Quem constrói a saúde de um casamento, hetero ou homossexual, é o casal.

29.              Casais gays em relacionamentos abertos devem ser sujeitos à disciplina eclesiástica?

Essa é a pergunta dos hipócritas de plantão nas Igrejas. Quantos são os casais heteros em relação veladamente aberta que sofrem disciplina em suas igrejas? Depende do dízimo, né?

30.              É pecado pessoas LGBT se envolverem em atividades sexuais fora do casamento?

Pecado é reduzir a sexualidade ao ato sexual. Pecado é negar a natureza de seu corpo e seus desejos. Pecado é forçar alguém, constranger, obrigar, humilhar, submeter...

31.              O que as igrejas abertas e inclusivas farão para falar profeticamente contra divórcio, fornicação, pornografia e adultério, quando estes forem descobertos?

Não faço a mínima ideia. Não sou parte de igreja inclusiva. Mas, como cidadão, ficaria feliz se as igrejas usassem seus recursos para defender o respeito aos direitos fundamentais: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade, ao invés de se preocupar com a privacidade alheia.

32.              Se “o amor vence”, como você define amor?
33.              Quais versos você usa para estabelecer essa definição?

O amor nem sempre vence...

34.              Como a obediência aos mandamentos de Deus molda nosso entendimento de amor?

Deveria ser algo assim: “Ama a teu próximo como a ti mesmo”.

35.              Você acredita que é possível amar alguém e discordar de decisões importantes que ela tome?

Claro que sim.

36.              Se apoiar o casamento gay é uma mudança para você, mais alguma outra coisa mudou no seu entendimento da fé?

Quase tudo. Graças a Deus.

37.              Enquanto evangélico, como o seu apoio ao casamento gay te ajudou a se tornar mais apaixonado pelos distintivos evangélicos tradicionais, como foco no novo nascimento, o sacrifício substitutivo de Cristo na cruz, a confiabilidade total da Bíblia e a necessidade urgente de evangelizar os perdidos?

Esses ‘distintivos tradicionais’ são um resumo do ‘The Fundamentals’, série de livros publicados no início do séc. XX, nos EUA, como ‘testemunho da verdade’ contra as mudanças do mundo. É daí que surge o termo ‘fundamentalismo’. Preciso falar mais?

38.              Quais igrejas abertas e inclusivas você apontaria como lugares onde pessoas estão sendo convertidas ao Cristianismo ortodoxo, pecadores estão sendo alertados do julgamento e chamados ao arrependimento e missionários estão sendo enviados para plantar igrejas entre os povos não alcançados?

Igrejas inclusivas e cristianismo ortodoxo são termos contraditórios. Acredito que missionários são aqueles que se entendem com uma missão: em nossa terra ou em outras, mas desejosos de servir à humanidade na luta por justiça, igualdade e direitos.

39.              Você espera estar mais comprometido com a igreja, com Cristo e com as Escritura nos próximos anos?

Não. Igrejas são o que sempre foram: lugares de opressão de uns e enriquecimento de outros. Cristo não é sinônimo de Jesus. Escrituras me servem como documento histórico, ora como fonte de inspiração, por sua beleza e profundidade, ora como objeto de crítica por sua agressividade e violência.

40.              Quando Paulo exorta “os que tais coisas praticam” e aqueles que “aprovam os que assim procedem”, quais pecados você pensa que ele tinha em mente?

Já falei de Paulo... Pouco, mas acho que o suficiente.

Quero apenas terminar com algumas provocações.

Você, cristão ou cristã, que tanto se preocupa com a vida sexual alheia, usa seus órgãos sexuais com a ‘finalidade designada por Deus’? Pensando em termos bem objetivos, Deus criou o sexo para a reprodução. Logo:

1.      Métodos contraceptivos são pecaminosos, não são naturais;
2.      Sexo oral é pecado – boca não foi feita para isso;
3.      Beijar mamilos ou qualquer outra parte do corpo é pecado – Deus criou cada parte do corpo para um fim específico;
4.      Sexo anal é um pecado inominável.


A quem se interessar:


O excelente documentário: “Por que a Bíblia me diz assim” - https://www.youtube.com/watch?v=E1E-wbF-UAc

Filmes:
Milk – a voz da igualdade.

Filadelfia.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Senhor é Deus. O resto é Baal (ou Diabo, se preferir...)


Corria o ano de 1998. Eu tinha de 16 para 17 anos. Recém convertido. Ávido por aprender. Desejoso de agradar à liderança da Igreja onde servia. Capaz de devorar informações. Leitor voraz da Bíblia. Professor da Escola Dominical.

Um grupo de nossa Igreja foi visitar uma outra Igreja, no sul do Estado do Rio. O pastor de lá era um avivalista. Alguém da mesma denominação, mas mais identificado com os movimentos de santidade, oração e despertamento evangelical.

Sua Igreja era a maior da cidade, com um grande templo em construção. Ele eventualmente pregava em nossa Igreja em “Conferências Evangelísticas”. Era negro, alto, magro, de oratória excelente, culto, carismático e afetuoso.

Fomos até lá conhecer seu trabalho e ouvir um pouco de suas experiências. E foi justamente uma delas que me marcou de forma profunda.

Estávamos sentados nos bancos do templo. Aquele pastor dividiu conosco algo que vivenciara no último mês. Havia um jovem na igreja, recém chegado, neto da Mãe de Santo mais famosa da cidade. Tinha se convertido a Cristo e enfrentava uma forte perseguição na família, pois seria, na linha de sucessão, um futuro Pai de Santo. Ele e sua família moravam atrás do terreiro de candomblé. Inclusive sua avó. Cientes da imensa batalha espiritual que enfrentavam, o pastor convocou uma campanha de oração na Igreja. Os membros se dividiam em horários fixos de oração, de maneira que havia sempre alguém orando por aquele jovem, 24h por dia.

Ao fim da segunda semana de oração, aquele jovem deu seu testemunho na Igreja. No culto de domingo à noite, com o templo repleto de pessoas, narrou com maestria o que vivera. Durante a semana anterior, o terreiro de sua avó comemorava a festa de um santo. O jovem, cheio de fervor espiritual, se trancou em seu quarto e permaneceu em oração, enquanto os tambores tocavam. De repente, uma confusão toma conta do terreiro, ele ouve pessoas correndo, gritando, jarros se quebrando e os tambores emudecidos. Sem saber o que acontecia, agarrou-se ainda mais à oração. Passados alguns instantes, levantou-se e foi ver sua avó. O terreiro estava revirado. Os objetos e imagens de culto, quebrados. A idosa no chão, triste.

                - Vó, o que houve? Perguntou o rapaz.

                - Homens de branco entraram aqui e destruíram tudo!

Essa foi a senha para a Igreja se colocar de pé e adorar! ‘Glória a Deus! Aleluia! Os anjos do Senhor destruíram o local de culto à Satanás!’. O testemunho do rapaz estava completo. Sua avó ‘ainda não estava na Igreja, mas não demoraria para que se convertesse...’.

Eu anotei todos os detalhes daquela história. Ao chegarmos ao Rio, meu pastor me pediu que preparasse um texto, narrando a história, para ser publicado no boletim da Igreja.

Como dito, aquela história me impactou. Foi um degrau a mais na minha escalada fundamentalista. Ela e diversos outros ingredientes me tornavam cada vez mais capaz de enxergar a minha fé como a única verdade no mundo.

O grupo de jovens que eu liderava fazia dois cultos semanais ‘ao ar livre’ – nome que damos aos cultos feitos em local público, com caixas de som e instrumentos. Terças à noite e domingos à tarde. No largo do morro, em frente à Associação de Moradores.

Aquele largo era também o local onde a garotada do morro jogava futebol e queimada. Costumávamos dizer que era a queimada do pecado: gays contra lésbicas. Era, então, o local ideal para se ‘pregar a Palavra’.

E eu fazia. Partia para cima das outras crenças, declarando que nosso Deus era muito maior do que ‘aquele que monta no cavalo e mata o dragão’. Deus estava conosco, pois antes não tínhamos recursos, agora tínhamos caixas de som, amplificador, guitarra, baixo, microfones...

Por diversas vezes ofendi a fé das pessoas. O comportamento. O modo de vida. Fazia achando que Deus estava comigo. Fazia por que isso me dava status de ‘ousado pregador da Palavra’. Fazia pedindo a Deus que ‘olhasse as ameaças deles e capacitasse os seus servos para proclamarem a Palavra com toda a intrepidez’.

Ouvi, diversas vezes na Igreja, o texto de Elias e os Profetas de Baal – 1 Reis 18,17-40:

E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe: És tu o perturbador de Israel?
Então disse ele: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e seguistes a Baalim.
Agora, pois, manda reunir-se a mim todo o Israel no monte Carmelo; como também os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Aserá, que comem da mesa de Jezabel.
Então Acabe convocou todos os filhos de Israel; e reuniu os profetas no monte Carmelo.
Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.
Então disse Elias ao povo: Só eu fiquei por profeta do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinqüenta homens.
Dêem-se-nos, pois, dois bezerros, e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe coloquem fogo, e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe colocarei fogo.
Então invocai o nome do vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por meio de fogo esse será Deus. E todo o povo respondeu, dizendo: É boa esta palavra.
E disse Elias aos profetas de Baal: Escolhei para vós um dos bezerros, e preparai-o primeiro, porque sois muitos, e invocai o nome do vosso deus, e não lhe ponhais fogo.
E tomaram o bezerro que lhes dera, e o prepararam; e invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém nem havia voz, nem quem respondesse; e saltavam sobre o altar que tinham feito.
E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará.
E eles clamavam em altas vozes, e se retalhavam com facas e com lancetas, conforme ao seu costume, até derramarem sangue sobre si.
E sucedeu que, passado o meio-dia, profetizaram eles, até a hora de se oferecer o sacrifício da tarde; porém não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma.
Então Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se chegou a ele; e restaurou o altar do Senhor, que estava quebrado.
E Elias tomou doze pedras, conforme ao número das tribos dos filhos de Jacó, ao qual veio a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome.
E com aquelas pedras edificou o altar em nome do Senhor; depois fez um rego em redor do altar, segundo a largura de duas medidas de semente.
Então armou a lenha, e dividiu o bezerro em pedaços, e o pôs sobre a lenha.
E disse: Enchei de água quatro cântaros, e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. E disse: Fazei-o segunda vez; e o fizeram segunda vez. Disse ainda: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez;
De maneira que a água corria ao redor do altar; e até o rego ele encheu de água.
Sucedeu que, no momento de ser oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se aproximou, e disse: Ó Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas.
Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que tu és o Senhor Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração.
Então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego.
O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos, e disseram: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou.

Ouvi esse texto para aprender quem é Deus e qual o destino dos inimigos dele. Só o Senhor (Javé) é Deus. O resto é Baal – o Diabo. Adultos, jovens, adolescentes e crianças são ensinados assim. É raro, MUITO RARO, EXCEÇÃO, alguma Igreja fazer diferente. 



Veja como é simples entender como se constroem as associações entre Baal e qualquer outra divindade ou panteão, sobretudo aqueles de matriz africana.

Essas são características elementares do fundamentalismo que nós, evangélicos brasileiros, herdamos dos missionários do Sul dos Estados Unidos. É consequência direta do ‘Destino Manifesto’, e, portanto, elemento constitutivo da nossa visão de mundo.

Entende por que terreiros e imagens são destruídas? É, em última análise, muito ‘simples’ saber por que uma menina ‘de branco’ leva uma pedrada na cabeça.

Qualquer desvio dessa certeza – Deus (o Deus ‘fundamentalista’) é o Senhor, o resto é Diabo – é visto como falta de fé, fraqueza espiritual, tentação maligna ou apostasia. Não há diálogo.

Foi muito bom para mim, fora do ambiente de Igreja, aprender que Baal era o Deus cananeu da fertilidade. Era ele quem, pela chuva, fecundava a terra - Astarote. Por isso, seus cultos eram cheios de rituais sexuais, com prostitutas e orgias. Por isso o Velho Testamento está tão cheio de proibições ao culto a Baal. Israel fazia aos montes...

Era bom demais, trazia chuva e comida, todo mundo fazia, mas só Javé é Deus, beleza? Qualquer semelhança com nossos dias é mera coincidência...