Alguém poderia me indagar sobre o
“lado bom” da Igreja. Será que eu não o vejo?
Ora. Claro que vejo. Muito do que
vivi na Igreja vai me acompanhar para sempre. É algo que me compõe.
Vivi ali muitas e diferentes emoções. Aprendi
sobre Deus. Não o Deus da Doutrina, do testemunho, da catequese. Mas o Deus que
não cabe nas linhas. Nas letras. É apenas captado pela emoção. Está em nós,
apesar de nós. É aquilo que nos move adiante. Que nos completa e ultrapassa.
Que nos segura, agita, incomoda, teima, age, reage, indigna. É a ternura, o
afeto, o perdão, a reconciliação, o colo, o abraço, o beijo, o amor, o começo,
o fim e o meio...
Como vi e vivi isso na Igreja!
Vi, apesar das dificuldades, vida
comunitária. Tínhamos uma cisterna na Igreja. Todo verão era a mesma coisa: “Pastor,
podemos pegar água na Igreja?”
Vi gente se ajudando para pagar
enterro. Vi o templo antigo ser usado como capela mortuária. Vi senhoras da
Igreja preparando café, bolo e biscoito para quem ia virar a noite no velório. Vi
uma casa ser construída num terreno para uma moradora de rua com seus dois
filhos. Vi vaquinha pra óculos. Vi cesta básica. Vi catadora de lata com
alegria de “entregar sua oferta”. Vi crianças jogando bola. Vi crianças me
abraçando. Vi velhinhos contando piadas. Vi gente em leito de hospital público,
a quem fui visitar, me mostrando o que é coragem. Vi gente acreditando na cura.
No milagre. No impossível. Até à última hora. Vi mulher dizendo “não” para o
marido. Vi alcoólatra erguer a cabeça. Vi a fé na vida eterna. Vi solidariedade
sem fim. Vi gente abrindo a porta de casa. Vi gente me emprestando o banheiro
quando não tive água. Vi gente mais velha me chamando de senhor. Vi pobre
ajudando rico. Vi adultos aprendendo a ler. Vi um pobre, negro, homossexual,
HIV positivo, cadeirante deixar de ser analfabeto, ser acolhido como igual. Vi
a força da Vida em ação.
Vi gente acreditar num garoto
franzino e o ordenar pastor.
Vi gente me mandando um SMS
ontem:
“Boa tarde, pastor! Depois que o senhor saiu
da Ilha ficou metido. Não quer saber dos pobres. Desculpe-me por não ter ido à
festa da Bia. Não deu mesmo. Pastor, hoje eu fiquei muito emocionada. Cantamos
na Igreja uma música que o senhor cantava quando fazíamos o culto aqui em casa.
Era tão bom. A gente morria de vergonha da casa, mas quando começava o culto a
gente até esquecia. Me vieram tantas lembranças suas. O senhor foi muito
importante para nós. Obrigada, por que se não fossem os cultos, nossa casa
estaria um caco até hoje. Um abraço. Beijos da nossa família para o senhor e
sua esposa. Deus proteja sua família. Amém.”
Hoje o texto é curto. A emoção é
grande demais.
Hoje completo um ano distante do
ministério pastoral. Envolvido por minhas reminiscências. Tentando entender o
sentido de tudo isso.
Perguntando-me: para onde vou?
Ei, dor!
ResponderExcluirEu não te escuto mais
Você não me leva a nada...
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...
Tentando entender, você poderá sentir.
https://www.youtube.com/watch?v=1EG1FMERJZo
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